sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Diário de um professor

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Me digam quem criou o respeito e quem o matou!?!
Me digam que esse mundo tem jeito!
Me digam que as crianças não perderam seu jeito adocicado de viver!
Me digam isso, por favor!
A maledicência é instrumento que rege, suga e domina essa ninharia de seres com  ̶t̶a̶n̶t̶a̶ pouca idade. Relapsos e rebeldes.

Vocês sabem o que é respeito?
Existe essa matéria na grade curricular, no calendário escolar?
Mal pagos, mal interpretados, mal recepcionados.
Mais desvalorizados que a moeda nacional.
Mais desrespeitados que um paciente que precisa da rede pública hospitalar.
Mais afrontados e humilhados que mendigos que penam na sarjeta.

Professores.
Professam esperança ao mesmo tempo que sentem dores.
Lecionam a fim de fazer pessoas grandes num país de transgressores.
De anarquistas, tentam fazer revolucionistas.

Tudo em vão?
Não sei dizer.
Obra inacabada.




domingo, 14 de maio de 2017

Juremeira

Tipicamente paraibana, venerada quase como uma divindade. Forte, frondosa, resistente, de beleza impressionante, que vive mais de 200 anos. Sua fama corre pelo Cariri, Paraíba, nordeste e mundo. Ela é a rainha das bandas de lá. Ela é sinal de vitória, luta e resistência. Ela enfrenta secas e estiagens sem reclamar. Faz de uma gota d'água um milagre. Floresce onde há mínima possibilidade.
Sobressai sem nem perceber. Ela é mainha, e mainha é a Jurema (mainha é juremeira!). Elas não são irmãs, elas são uma só. Porque mainha é a força motriz, mainha é a locomotiva deste lar. Mainha floresce na seca e resiste a longas e dolorosas estiagens. Me pergunto se a força dela vem por conta da terra em que nasceu, ou se é por conta do leite de cabra que ela diz ter tomado quando criança. Deve ter a ver. Mas creio que essa força vem de algo muito maior - o próprio Deus. Mainha é amor, e ama sem muitas palavras. Mainha ama com atitudes e cuidado. Mainha ensina crianças a ler e nos ensina desde crianças a ler a vida. Nos ensinou o que é ter honestidade, caráter, lealdade. Mainha nos ensinou a ter palavra! Mainha nos fez fortes quando em suas piores dores sobreviveu e caminhou. Mainha é caminho de paz e respeito. Mainha é história de luta e superação... é a pura paciência e sabedoria. Mainha é tão mandona, mas isso lhe dá aquele toque especial e nós a amamos por isso. Eu e ela somos bem diferentes, mas há 33 anos tenho aprendido a respeitar e saber conviver com as diferenças de opiniões que temos. Espero ser motivo de alegria pra ela, porque ela é motivo de gratidão pra mim. Minha Jurema forte, a rocha que tanto diz que é (e é mesmo). Seus ensinamentos são lei e estão tatuados em meu coração. Espero ser tão boa o quanto és para nós e para o mundo. Espero que vivas por mais de 200 anos e veja teus netos crescerem e se tornarem grandes e fortes com tu, Juremeira. Te amo, mainha. És a minha maior inspiração e aspiração como mulher. És, de fato, a rainha das bandas de cá!

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Meias medidas


De vida
De papel
De canção
De (c)oração
Pedaços
Percalços
Pedágios
Valas
Buracos
Lama e poeira
Vidros minúsculos
Sem serem vistos a olho nu
Arranham
Penetram
Se infiltram
Inflamam
Supuram
São expulsos
Aliviam
Nova vida
Pele lisa
Novo curso
Sinergia
Alegria
Dores secas
Envelhecidas
Já passadas
Esquecidas
Canção nova
Que abraça
Que toca e é sentida
Solfejada
Comove
Irradia
Limpa
Tranquiliza
Reanima
Ratifica: sim, existe amor sem meias medidas.





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( http://winechef.com.br/wp-content/uploads/2016/06/Erros-imperdo%C3%A1veis-na-arte-de-beber-vinho.jpg )

sábado, 29 de abril de 2017

Grande é

O dia
As folhas
As flores
O grão
O tempo
As pessoas
O dia das pequenas coisas
Não das coisas pequenas
Não às coisas pequenas
Pessoas pequenas passam
Pequenas coisas agregam
Aguenta
Não esmorece
Admira
Não despreza este dia
Há mais
Sempre há
Grande é
Grande és.

domingo, 23 de abril de 2017

Metalinguisticamente

Nem Lispector, nem Meireles
Rubem Alves? Nem a sombra
Mas a letra cantada no papel surge
Sem métrica e rima obedecidas
Estruturas linguísticas a ponto de ruínas
A letra vem
Nasce
Num parto sem anestésicos
Dores, de fato, sentidas
Pare
Imperfeita, mas com vida
Cheia de sentimentos
Exuberantemente independente
Linda
Sem parâmetros quaisquer
Ela gera, dá vida e contempla
Amada
Fruto da sensibilidade da alma
Sorri com os olhos quando acontece
Mas antes, sente dores, se contorce
Para quê, no parto da alma, a filha nasça
Chore
Se esgoele
Respire
Grite
Receba a vida
Se liberte.